Tédio
- Tatiana Perecin
- 2024-08-16
- Psicoterapia
Dor, fome, frio, tristeza, medo? Essa lista passou pela minha cabeça quando meu sobrinho começou a chorar.
Ele tinha 6 meses, estava brincando e rindo, até que chegou a hora de trocar a fralda. Assim que ele foi deitado no trocador, o choro começou, e eu me perguntei qual poderia ser a fonte daquele sofrimento. Eu ainda estava confusa quando sua mãe colocou um brinquedo na mão dele, e o choro sumiu. E foi ali que eu entendi: daquele mundo de cores e sons no qual ele estava imerso durante a brincadeira, foi levado para uma posição onde só via o teto branco. Nada para entreter. Um vazio de estímulos. Sentiu tédio, e na reação mais espontânea da criança, chorou.
Não é à toa que quando somos pequenos e nos expressamos mais livremente, manifestamos o tédio do mesmo jeito que expressamos outras formas de sofrimento, porque é isso que o tédio produz: sofrimento. Mas, depois de adultos, nossa permissão social para expressar sofrimento fica reduzida: não choramos mais por estar com fome, nem com sono, moderamos a expressão de raiva, ou tristeza, e a expressão do sofrimento produzido pelo tédio fica tão reduzida que às vezes até nos esquecemos dele como um sentimento difícil.
Infelizmente, neste ano entramos novamente em contato com ele. O tédio é um sentimento que indica uma falta, e sendo assim, expressa um pedido. O que ele quer é aventura! Aquela mistura de novidade com desafio que produz certa dose de ansiedade que a gente descreve como “frio na barriga”. Pra você ver como aprender a lidar com a ansiedade é importante: ela é um dos ingredientes na receita do antídoto para o tédio!
“Mas Tati, como vou achar um jeito de me aventurar?” Pense um pouco, pergunte pra sua inveja se tem algo na lista dela que seria possível fazer, exercite sua criatividade e se prepare para se arriscar: que tal finalmente colocar em prática aquele projetinho que estava engavetado? Talvez vocês já estejam adivinhando: foi assim que nasceu meu instagram durante a pandemia de COVID!