Raiva
- Tatiana Perecin
- 2024-08-16
- Psicoterapia
Quando perguntados sobre para que serve sentir raiva, muitos clientes respondem que sentimos raiva quando somos atacados, e que ela serve para nos defender. É uma resposta parcialmente verdadeira, já que há mesmo um componente de autodefesa na nossa reação raivosa.
Mas defesa contra o que? Se você estivesse numa floresta sendo atacado por um tigre, você precisaria se defender. Mas estaria sentindo raiva? Na verdade, não. Numa situação como esta que envolve perigo, é mais comum sentirmos medo - e com isso nosso circuito de luta ou fuga é ativado. Salve-se quem puder.
E a raiva, onde entra? Vamos para outro cenário: você está no refeitório da escola, e um fortão rouba sua sobremesa. Agora sim, vamos sentir raiva, porque nessa cena há um componente claro de injustiça. É o que sentimos quando roubam nosso celular, ou quando o nosso chefe não reconhece nosso trabalho duro. A raiva aqui aparece para nos mover a reequilibrar essa situação injusta. Para isso, ela nos enche de energia, como quem diz: vai lá e pega de volta o que é seu!
Aqui mora o problema: muitas vezes, num contexto de raiva, muito focada na ideia da autodefesa, e pouco na questão da injustiça, a pessoa age de maneiras que ela mesma considera inadequadas e agressivas. O cliente vem para a terapia insatisfeito e cheio de culpa, mesmo tendo gastado com folga toda a energia que a raiva lhe deu. Porém eis que ele não reparou a injustiça. Pelo contrário, nessa explosão magoou quem não devia, acabou sendo injusto, e com isso adicionou ao montante total de injustiça da situação.
A raiva é um sentimento que pede justiça e reparação, e ela só se acalma quando vemos atingido esse objetivo. O “xis” da questão na terapia é clarear a qual injustiça ela se refere, e canalizar esta energia em direção a comportamentos que produzam uma situação mais justa para todos os envolvidos.