Limites da relação terapêutica: Psicólogo pode atender parente?
Tatiana Perecin
2024-08-16
Supervisão
Resposta curta: não. Nem parente, nem amigo, nem ninguém com quem ele tem uma relação pessoal. E se você leu os textos anteriores, já deve estar imaginando o porquê. ⠀ A relação terapêutica é uma relação ‘customizada’ para atender as necessidades de desenvolvimento do cliente. Isso significa que o psicólogo suprime suas necessidades pessoais durante aquele horário da terapia em favor do cuidado do outro. ⠀ Contrariamente a isso, relações pessoais são relações que são construídas de modo a atender ambas as pessoas; quando são saudáveis, são relações em que há muita negociação e equilíbrio no atendimento das necessidades dos envolvidos. Ou seja, são dois modos completamente diferentes de interagir. ⠀ Bom, mas o psicólogo não poderia simplesmente mudar o modo de agir quando os dois estivessem na sessão? A questão é que o comportamento do psicólogo na sessão é ditado pela análise das questões do paciente.
Imagine porém que a análise mostre que seria melhor para o cliente fazer alguma coisa que seria ruim para o psicólogo, no que se refere à sua relação pessoal com o cliente. Um psicólogo que esteja atendendo sua namorada, que ele ama, mas a análise mostra que ele está criando uma relação que é tóxica para ela, e ela iria se beneficiar de se afastar.
Ou um psicólogo que atende outro que trabalha na mesma clínica e dividem custos, vai atender seu colega e a análise mostra que o colega estaria mais feliz fazendo outra coisa - mas pra isso teria que abandonar a clínica. Será que esse psicólogo consegue ter uma atitude profissional acima de seus interesses pessoais? E se ele conseguir, será que isso seria bom para a saúde mental dele? Ou seja, nessa situação a relação não é terapêutica, não é uma relação que produz cura e nem saúde, para nenhum dos envolvidos.